A Casa da Família Rodrigues, situada no Largo das Três Bicas, nas Furnas, foi adquirida por
esta família há mais de 100 anos, (1922), por Maria Augusta de Medeiros Pinheiro Rodrigues,
viúva de Manuel Rodrigues, pais do compositor Benjamim Rodrigues.
Construída em finais do século XVIII, (1796), foi remodelada diversas vezes ao longo dos aos,
sendo a última grande remodelação realizada entre 2019 e 2021, mantendo-se as suas
principais características estruturais bem como a maioria dos seus interiores e do seu
mobiliário. Trata-se de uma casa museu, onde o visitante pode interagir com o passado e com
a história da família, perceber como eram os interiores micaelenses com as antigas cozinhas
munidas do seu forno e demais dependências inclusive mantendo-se no exterior os tão
célebres currais para a criação de suínos, que servia então como base principal para a
alimentação das pessoas. Hoje é raro ver-se algumas peças etnográficas que a casa
apresenta.
Visitar esta casa é como fazer uma viagem no tempo, aprender um pouco da história das
Furnas e desta família que em certa medida foi determinante para a evolução da música neste
vale cheio de encantos.
Benjamim Rodrigues (1897–1981) músico e compositor natural das Furnas, São Miguel, reconhecido pela sua contribuição à música regional, compôs diversas peças que celebram a cultura e as tradições locais, preferencialmente de índole processional.
Uma das suas obras mais notáveis é a serenata “Água Santa”, que reflete a tradição do povo do Vale das Furnas, composição frequentemente interpretada em eventos culturais na região.
Além disso, Benjamim Rodrigues compôs o “Hino de Santana”, dedicado à padroeira do Vale das Furnas, festa celebrada anualmente no último domingo de julho.
Uma placa comemorativa em sua homenagem foi colocada nesta casa no Largo das Três Bicas, Furnas, onde o compositor viveu e faleceu. Esta placa destaca a importância de Benjamim Rodrigues para a comunidade local e para a música filarmónica açoriana.
Foi também a nível político um antifascista convicto, participou em 1931 numa revolução de índole militar, quando era segundo-sargento músico e o país governado por António Salazar, por ter participado foi preso vários meses, onde no cárcere compôs a marcha fúnebre “Na Prisão”, inspiração que naquele ambiente imaginou o seu próprio funeral.
Ana Maria da Silva Rodrigues (1901-1995) fadista célebre nas primeiras décadas do século
XX, exímia guitarrista, arte que aprendeu sozinha, foi casada com o músico compositor
Benjamim Rodrigues.
Quando jovem deixou-se inspirar pelos numerosos grupos de fadistas vindos de Coimbra,
Portugal, naquele tempo era comum visitarem este vale quando terminavam os anos lectivos
na Universidade de Coimbra.
A tradição de cantar à noite nas Furnas tem aqui o seu prelúdio. Quando o movimento
coimbrão terminou com a queda da Monarquia Portuguesa, a jovem Ana Maria já dominava
todos os tradicionais fados de Coimbra, cantava os fados clássicos como ninguém. Depressa,
com outras raparigas e depois rapazes e músicos locais, continuaram a tradição de cantar
durante as noites calmas e serenas do verão, dando inicio às tradicionais Serenatas das
Furnas.
Ana Maria da Silva Rodrigues
Victor Manuel Rodrigues (1927-1992), músico compositor açoriano fez carreira no continente português.
Inicialmente, ainda nos Açores fez parte da famosa Orquestra Terra Nostra que dividia a sua actividade entre os Hoteis Terra Nostra das Furnas e o do Aeroporto Internacional de Santa Maria.
Em meados da década de 50 do século XX, foi para Lisboa onde fez toda a sua carreira musical. Durante os primeiros 14 anos deambulou nos paquetes da Companhia Nacional de Navegação, como chefe de orquestra e mais tarde integrou a Orquestra Ligeira Nacional, precursora da Orquestra da Rádio Difusão Portuguesa aonde se manteve até à sua morte.
Entre os seus maiores sucessos conta-se o 1º prémio do Festival da Canção de Luanda, Angola (1971), e o primeiro prémio das Marchas Populares de Lisboa (1973) com a marcha
"Lisboa Cheia de Luz", sendo até hoje o único Açoriano que venceu este importante certame popular da canção portuguesa.
Susana Rodrigues (1936-2013) pianista que se destacou em meados do século XX pelo seu talento musical.
Ao longo de sua vida artística, que foi curta, a sua paixão pela música levou-a a vários palcos e serões familiares, com destaque para o Casino Terra Nostra . Com um estilo único e uma técnica apreciável o seu maior dom era poder executar todo o tipo de partituras dos mais diferentes géneros musicais. A quatro mãos, fez dupla com o famoso pianista da ilha de São Jorge, José do Nascimento Meireles Pamplona.
As suas atuações facilmente conquistavam o apreço do público e a admiração pelas suas refinadas apresentações. A dedicação de Susana Rodrigues como pianista continua a inspirar novas gerações de músicos.